Por Ana Gomes, Psicóloga
Blog "Famílias No Bully"
O comportamento agressivo nas crianças é muitas vezes um aspeto que inquieta os adultos que lidam com a criança diariamente – sejam pais, professores, membros da família...
Nem sempre é fácil dar uma resposta eficaz aos comportamentos agressivos das crianças. Por um lado, porque também causa nos adultos emoções fortes; por outro, porque os comportamentos agressivos são conotados negativamente e normalmente são associados diretamente à violência.
Então, antes de mais é importante que perceba: a agressividade contém em si uma dimensão saudável, que faz parte do desenvolvimento emocional de qualquer ser humano.
É uma componente que faz parte do desenvolvimento de qualquer ser humano, por isso deve ser vista também como algo normal e necessário, uma vez que tem também uma dimensão saudável e cumpre uma função!
A agressividade permite estabelecer as nossas diferenças e os nossos limites, está presente quando lutamos pelos nossos direitos, pelo nosso bem-estar e está relacionada com a nossa capacidade para nos defendermos, mas também de alcançarmos os nossos objetivos.
Ela é, antes de mais, primária, ou seja, é inata a todos os seres humanos, e posteriormente secundária, ou seja, é uma reação a uma situação de frustração.
No fundo tem duas funções principais: a de nos proteger e a de nos mobilizar para a ação.
Então isso significa que todos os comportamentos agressivos das crianças cumprem uma função ou são saudáveis?
Não!
É preciso distinguirmos o que é uma agressividade normal e saudável, de uma agressividade patológica e destrutiva.
É importante ter atenção a alguns sinais de alerta como:
• Ausência de culpabilidade e falta de empatia por parte da criança que tem comportamentos agressivos
• Intensidade, persistência e repetição dos comportamentos agressivos
• Intencionalidade dos comportamentos agressivos
• Descontrolo ou incapacidade de justificar/explicar o seu comportamento
• Autoagressão
Enquanto adultos devemos ajudar a criança a integrar as suas emoções, ajudando-a a entender os limites da realidade, mas também permitir que explore e desenvolva a sua identidade, as suas emoções e relações com os outros e consigo própria de forma segura.
Existem também várias atitudes que podem ser protetoras e ajudar a criança a lidar melhor com as suas emoções (sejam elas agressividade, tristeza, alegria, medo, etc.).
Deixo-lhe algumas sugestões:
• Respeite as emoções da criança – não diga que ela não se deve sentir zangada ou triste só porque aos seus olhos não há motivo
• Tente compreender com a criança a origem do seu sentimento – pergunte-lhe o que a deixou tão chateada!
• Ajude a criança a compreender o que está a sentir e porquê – podem ir colocando várias hipóteses juntos até chegar à origem do sentimento.
• Mostre empatia – tente pôr-se no lugar da criança e perceber o que ela sente.
• Estabeleça limites protetores – isto permite que a criança explore de forma segura as suas emoções. Pode dizer-lhe algo como “podes mostrar o quão chateada estás, desde que não te magoes nem me magoes a mim”.
• Aja de forma assertiva, sem agressividade – as crianças são esponjas, se gritar com ela, provavelmente ela irá assumir isso como uma resposta aceitável para quando se sente irritada.
• Seja um porto de abrigo – ser positivo, consistente, seguro e afetuoso pode dar à criança a segurança que ela precisa para dizer como se sente.
• Respeite os seus próprios limites – se não está a conseguir lidar com determinados comportamentos da criança, procure ajuda, seja dentro da escola, com um psicólogo ou com a nossa equipa.
Os adultos têm sempre uma função educativa, e precisam muitas vezes de corrigir comportamentos. Mas é importante não se esquecer que uma criança que tenha comportamentos agressivos atípicos não precisa só de regras, e muitas vezes o castigo não é a solução mais eficaz para mudar o comportamento. Muitas vezes é mais eficaz e saudável ajudar a criança a compreender as suas emoções, a lidar com o seu sofrimento e a desenvolver uma relação mais saudável consigo própria e com os outros.
Além de identificar estes aspetos, é importante compreender que a agressividade patológica é, acima de tudo um sinal de sofrimento emocional e não deve ser ignorado nem negligenciado!
Artigo da autoria da Dr.ª Ana Gomes, Psicóloga Clínica