Comportamentos agressivos na infância: como lidar com eles?

Por Ana Gomes, Psicóloga

Blog "Famílias No Bully"

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Qual é o papel da agressividade no desenvolvimento emocional?

O comportamento agressivo nas crianças é muitas vezes um aspeto que inquieta os adultos que lidam com a criança diariamente – sejam pais, professores, membros da família...

Nem sempre é fácil dar uma resposta eficaz aos comportamentos agressivos das crianças. Por um lado, porque também causa nos adultos emoções fortes; por outro, porque os comportamentos agressivos são conotados negativamente e normalmente são associados diretamente à violência. 

Então, antes de mais é importante que perceba: a agressividade contém em si uma dimensão saudável, que faz parte do desenvolvimento emocional de qualquer ser humano.

Então o que é isto da agressividade?

É uma componente que faz parte do desenvolvimento de qualquer ser humano, por isso deve ser vista também como algo normal e necessário, uma vez que tem também uma dimensão saudável e cumpre uma função!

A agressividade permite estabelecer as nossas diferenças e os nossos limites, está presente quando lutamos pelos nossos direitos, pelo nosso bem-estar e está relacionada com a nossa capacidade para nos defendermos, mas também de alcançarmos os nossos objetivos.

Ela é, antes de mais, primária, ou seja, é inata a todos os seres humanos, e posteriormente secundária, ou seja, é uma reação a uma situação de frustração. 

No fundo tem duas funções principais: a de nos proteger e a de nos mobilizar para a ação.

Então isso significa que todos os comportamentos agressivos das crianças cumprem uma função ou são saudáveis? 

Não! 

É preciso distinguirmos o que é uma agressividade normal e saudável, de uma agressividade patológica e destrutiva.

Agressividade saudável e patológica

A que sinais de alerta posso ter atenção?

É importante ter atenção a alguns sinais de alerta como:

• Ausência de culpabilidade e falta de empatia por parte da criança que tem comportamentos agressivos

• Intensidade, persistência e repetição dos comportamentos agressivos

• Intencionalidade dos comportamentos agressivos

• Descontrolo ou incapacidade de justificar/explicar o seu comportamento

• Autoagressão

Como é que o adulto pode ajudar a criança a lidar com a sua agressividade?

Enquanto adultos devemos ajudar a criança a integrar as suas emoções, ajudando-a a entender os limites da realidade, mas também permitir que explore e desenvolva a sua identidade, as suas emoções e relações com os outros e consigo própria de forma segura.

Existem também várias atitudes que podem ser protetoras e ajudar a criança a lidar melhor com as suas emoções (sejam elas agressividade, tristeza, alegria, medo, etc.). 

Deixo-lhe algumas sugestões:

Respeite as emoções da criança – não diga que ela não se deve sentir zangada ou triste só porque aos seus olhos não há motivo

Tente compreender com a criança a origem do seu sentimento – pergunte-lhe o que a deixou tão chateada!

Ajude a criança a compreender o que está a sentir e porquê – podem ir colocando várias hipóteses juntos até chegar à origem do sentimento.

Mostre empatia – tente pôr-se no lugar da criança e perceber o que ela sente.

Estabeleça limites protetores – isto permite que a criança explore de forma segura as suas emoções. Pode dizer-lhe algo como “podes mostrar o quão chateada estás, desde que não te magoes nem me magoes a mim”.

Aja de forma assertiva, sem agressividade – as crianças são esponjas, se gritar com ela, provavelmente ela irá assumir isso como uma resposta aceitável para quando se sente irritada.

Seja um porto de abrigo – ser positivo, consistente, seguro e afetuoso pode dar à criança a segurança que ela precisa para dizer como se sente.

Respeite os seus próprios limites – se não está a conseguir lidar com determinados comportamentos da criança, procure ajuda, seja dentro da escola, com um psicólogo ou com a nossa equipa.

Os adultos têm sempre uma função educativa, e precisam muitas vezes de corrigir comportamentos. Mas é importante não se esquecer que uma criança que tenha comportamentos agressivos atípicos não precisa só de regras, e muitas vezes o castigo não é a solução mais eficaz para mudar o comportamento. Muitas vezes é mais eficaz e saudável ajudar a criança a compreender as suas emoções, a lidar com o seu sofrimento e a desenvolver uma relação mais saudável consigo própria e com os outros.

Além de identificar estes aspetos, é importante compreender que a agressividade patológica é, acima de tudo um sinal de sofrimento emocional e não deve ser ignorado nem negligenciado!

Artigo da autoria da Dr.ª Ana Gomes, Psicóloga Clínica

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