"Conflitos na juventude: como ajudar a resolver?”

Por Inês Oliveira, Educadora de Infância

Blog "Famílias No Bully"

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Como olhar para os conflitos?

  

Sendo a interação algo natural entre crianças, jovens e adultos é esperado e expetável a existência de conflitos entre si e por conseguinte, uma certa dificuldade na sua gestão e resolução. 

Antes de mais, é necessário romper a ideia de que a palavra conflito se associa a palavras como «perigo», «rebeldia», «crise» e «agressividade». É fundamental refutar a conceção negativa que se atribui a esta palavra. 

Devemos olhar para os conflitos como momentos de desenvolvimento pessoal, uma vez que são circunstâncias bastante construtivas por influenciar os processos de crescimento e a construção da identidade das crianças e jovens. 

Por exemplo, quando uma criança está a brincar ou a jogar com determinado objeto e não empresta a um colega, é espoletada uma situação conflituosa de recursos. A partir da mediação e gestão deste conflito é possível e pertinente trabalhar o conceito da partilha, bem como as emoções que ambos sentem naquele momento e consequentemente, o desenvolvimento socioemocional está a ser fomentado. 

Qual é o papel das pessoas adultas na gestão de conflitos entre crianças e jovens?

  

A intervenção da pessoa adulta surge através da mediação e da negociação. Quando falo de negociação, refiro-me ao processo de cooperação até ser alcançada uma solução. Para isto, é necessário que os intervenientes colaborem para alcançar benefícios e que definam uma solução que satisfaça as suas necessidades, sendo que o interesse comum e a possibilidade de comunicação entre si são condições imprescindíveis na resolução do conflito.  

Durante o processo de negociação são feitas várias concessões mútuas entre os intervenientes e ambos procuram um acordo que satisfaça os interesses comuns. Para tal, torna-se essencial o estabelecimento de uma negociação baseada no respeito e na responsabilidade.

Neste caso, a pessoa adulta deverá surgir como mediador, visto que, por norma, se trata de uma pessoa respeitada pelas partes implicadas no conflito. 

Como é que o adulto pode ajudar a criança a lidar com a sua agressividade?

De forma a explicitar de que forma uma pessoa adulta pode surgir como mediador, identifico 7 passos que poderão seguir na gestão de um conflito: 

1) Estimular e ouvir a explicação de cada interveniente de forma individual;

2) Ajudar os intervenientes a compreender que as suas ações têm efeitos, consequências e impacto sobre os outros. Para concretizar este passo, a pessoa adulta poderá questionar e se necessário conduzir a conversa através de perguntas, com o objetivo de os ajudar a chegar a uma conclusão;

3) Estando cientes do impacto das suas ações devem assumir a sua responsabilidade;

4) Ao reunir os intervenientes, a pessoa adulta deverá definir o problema com as informações que recebeu de ambas as partes;  

5) Posteriormente, deve pedir ideias e soluções. Seguida de uma conversa, os intervenientes devem tomar uma decisão sobre qual colocar em prática; 

6) Já numa fase final, a pessoa adulta deve encorajar os intervenientes a levar à prática as suas decisões;

7) E por fim, a pessoa adulta deve estar preparado para dar apoio no seguimento dos acontecimentos. 

A título de exemplo:

No intervalo, um grupo de jovens joga futebol e ocupa todo o campo do polidesportivo. Contudo, outros estudantes querem utilizar igualmente o espaço. A fim de aproveitarem o polidesportivo, questionam o grupo que está a jogar se podem sair para jogarem também. Os jovens que estão a jogar não gostam da interrupção, nem desejam deixar o jogo, gerando uma discussão entre ambos os grupos, conduzindo uma luta. 

  

Que papel pode a pessoa adulta desempenhar para gerir este conflito de forma construtiva?

Em primeiro lugar, deve separar ambos os grupos e ouvir a sua versão da história (1.ª estratégia). 

Posteriormente, é essencial que se converse sobre o que sentiram e que se responsabilizem sobre os seus atos (2.ª e 3.ª estratégia) - o que vos levou a agir dessa forma? Ficaram chateados? Frustrados? Como acham que os outros colegas se sentiram por quererem jogar e vocês não deixarem? Foi correto não partilhar o campo? E partir/continuar uma luta? Se não é correto e agiram mal, precisam de assumir essa responsabilidade. O que podem fazer?

Depois de conversar com os vários jovens, a pessoa adulta deverá juntar ambos grupos e resumir a situação que despoletou a discussão (4.ª estratégia) - Então vocês queriam jogar, mas o campo estava ocupado e por isso questionaram os vossos colegas. Vocês foram interrogados, mas não queiram deixar de jogar. Posto isto, como não chegaram a um consenso começaram a lutar… Enquanto uns se sentiram tristes, chateados e frustrados por não puderem jogar, outros ficaram aborrecidos porque não queriam parar…

Feito o resumo, ambas as partes podem comentar a situação e conversar com os seus pares, por exemplo para explicar o que sentiram ou pedir desculpa.

Face a todo o desenvolvimento, surge o momento de pensar na resolução da situação (5ª estratégia). E para isso, a pessoa adulta deverá questionar de que forma poderão chegar a um consenso – se necessário poderá, novamente, fazer algumas perguntas que remetam para uma reflexão sobre alternativas - Como vamos resolver isto? Se ambos querem utilizar o campo, que soluções propõem?

Poderão surgir da parte dos jovens soluções como: (1) Dividir o tempo do intervalo; (2) Dividir o campo; (3) Jogarem em conjunto… Por fim, devem optar pela alternativa que preferirem e responsabilizar-se pela sua concretização, nesta fase a pessoa adulta poderá mencionar a importância de se assumirem compromissos perante os outros (6ª estratégia). 

É sempre assim?

Claro que nem sempre as situações se desenrolam de forma pacífica. É necessário tempo até que as crianças e jovens se habituem a esta estratégia. Enquanto que numa primeira, segunda, terceira situação a pessoa adulta terá um papel muito ativo, à medida que vão surgindo outros conflitos as crianças e jovens irão recorrer às estratégias que adquiriram, bem como às capacidades e competências que foram desenvolvendo, como por exemplo ser empático e comunicador. 

Por fim, remetendo para uma reflexão, que competências desenvolveriam estes jovens se a pessoa adulta os tivesse colocado de castigo ou afirmado que nenhum dos dois grupos poderia jogar? 

É fundamental colocar as crianças e os jovens a refletir sobre as suas emoções, os seus comportamentos, as suas atitudes responsivas, para que criem os seus próprios valores, desenvolvam a sua personalidade e se desenvolvam social e emocionalmente, de forma a saber gerir os conflitos que surjam ao longo da sua vida. 

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